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4.7.05

 

As Massas, Os Ismos, O Orkut e o Destino da Humanidade

Massas
Eu estou um pouco cansado da massificação exacerbada do mundo de hoje. Massificação e força-bruta.

Eu tenho 30 anos de idade, formação superior incompleta, solteiro, sem filhos. Eu pago seguro mais caro. O seguro do meu carro é mais caro que o do cara que "seguiu a cartilha". Como diz o ditado. o justo paga pelo pecador. Não há novidade nisso. O que há, talvez, é uma falta generalizada de senso nas pessoas e, principalmente, na educação das novas pessoas, para ensiná-las a valorizar a própria voz, apesar do mundo em contrário. Meu sangue armênio reluta, mas sei, convictamente: o conforto é mais caro pra mim do que para a média.

Tudo agora é feito baseado na média, na estatística. E mais, impinge-se medo com base na "média". É extremamente comum ouvir-se notícias do tipo: Pesquisa afirma que 60% dos homens que comem hamburger morrem de enfarto. Despreza-se sumariamente a complexidade intrincada do ser humano, a individualidade.

-ismo
Com o advento e o barateamento(?!) das câmeras digitais, agora todo adolescente de classe média tem uma câmera digital. Seja a top-multi-extra-super último modelo da Sony, ou aquela desavergonhada do celular, em qualquer lugar que se vá, vê-se a molecada (sim, estou sendo gentil aqui) se juntando e tirando fotos. E fotos. E mais fotos. E mais fotos. E mais fotos. E praticamente todas iguais.

Eu nunca tive habilidade com fotografias. As melhores fotos que já bati são, no máximo, triviais, banais, sem nenhum grande atrativo. Na qualidade de mente pensante, no entanto, já cheguei a ler algo a respeito da arte e da técnica da fotografia. Nenhum estudo sério ou aprofundado, mas eu pude extrapolar a existência de uma infinidade de nuances que a arte da fotografia pode ter. Eu não nasci pra isso, mas eu reconheço o valor da arte.

Com o advento do fotografismo, a arte da fotografia está cada vez mais difícil de se achar. Não quero desmerecer o trabalho dos profissionais da área, quem quer que eles sejam. Mas é que agora, há tantos milhares ou milhões ou zilhões de fotos por aí, que eu simplesmente não tenho mais saco pra procurar. E a arte. Como tirar foto ficou muito fácil, não é mais preciso ter arte em fotografia, basta você tirar 150.000 fotos: estatisticamente, pelo menos uma vai prestar. O resto você apaga. Pra liberar espaço. Pra tirar mais 150.000 fotos.

Isso me lembra do controverso Prof. Setzer, do IME - USP. Acho que foi em uma aula daquela disciplina ímpar que ele ministrava (O Computador na Sociedade e nas Empresas, que apelidei carinhosamente de Divagações Filosóficas do Prof. Setzer Sobre o Universo, o Tudo e o Nada), que ele nos contou histórias antigas. Antigamente, para um estudante de Computação da USP executar os seus EPs (Exercícios-Programas - como diabos é o plural disso?), a seqüência era mais ou menos assim: o pelego primeiro pensava no problema, depois escrevia o programa, depois ele transcrevia o código-fonte para cartões perfurados (sim, aqueles mesmos dos filmes antigos). Com a sua preciosa pilha de cartões perfurados e ordenados em mãos, nosso valoroso discípulo do saber dirigia-se ao CCE (Centro de Computação da USP), onde entrava na fila. Se fosse na véspera da entrega do EP, a fila era certamente interminável. Com todo o cuidado possível e imaginável neste mundo, ao chegar a sua vez, o aplicado estudante colocava os seus cartões, em ordem, na gavetinha da leitora de cartões. Os cartões eram então lidos, o programa era carregado na memória do computador, executado, e o resultado saía numa impressora, daquelas grandonas matriciais, barulhentas e lentas. Se, após todas essas intempéries, o programa gerasse um resultado incorreto, era preciso revisar tudo, desde o princípio. Como conseqüência, a qualidade dos programas era sempre muito grande: o custo de um erro era muito alto. Hoje em dia, o programador escreve um statement, uma linha de código, aperta uma tecla F9 qualquer da vida, e o arquivo está salvo, compilado, o projeto re-linkado, e o programa em execução é recarregado com a nova versão. Errar é muito barato.

Existem outras infinidades de -ismos hoje. Deve haver um nome bonito para essa atitude. O SPAM, a praga dos tempos modernos, é um -ismo. Baseia-se no fato de que, ao mandar e-mail para um zilhão de pessoas, pelo menos um idiota vai cair no conto do vigário.

Orkut
Acho que foi Demóstenes, o famoso orador grego que disse que quanto mais gente reunida, menor é o nível intelectual médio. Não lembro de verdade se foi ele quem disse isso, ou se foi o Zé da esquina. Mas, ao longo da minha curta existência, ainda não vi os fatos negarem essa teoria. Muito pelo contrário, os exemplos concordantes são infindáveis.

O Orkut tornou-se conhecido no mundo inteiro. Ok. É interessante re-encontrar muita gente, re-unir pessoas há muito distantes. Ter notícias. Encontros felizes escritos no livro do Destino, também. Eu sou testemunha disso. Mas, no geral, o Orkut é algo tão ilusório, tão tênue e besta! Há uma cultura de rotulação baseada em fotos e em quais comunidades uma pessoa está inscrita. Gente que eu nunca vi na vida se dizendo meus amigos. Ah, aquela velha história de "o que é amigo de verdade?", ou "precisa ser amigo próximo pra ser amigo?" ou outras discussões bestas quaisquer. Não vou entrar nesse mérito.

update (09/Jul): Tem uma cena do Matrix que eu acho que diz muito sobre isso. É aquela em que Neo, Trinity, Morpheus e Cypher estão no carro. Neo está indo es encontrar com a Oráculo. Neo vê o lugar onde ele comia noodles, e se sente incomodado. "Eu tenho todas essas memórias da minha outra vida. Nenhuma delas aconteceu de verdade. O que isso significa?". Ao que Trinity responde: "Que a Matrix não pode te dizer quem você é".

O Destino da Humanidade
O destino é.... o buraco. Sem nem entrar em questões básicas como abastecimento de água potável e alimentação, a humanidade está cada vez maior. Onde será que eu vi essa linha de raciocínio antes?. Praticamente tudo o que é feito hoje, é feito em larga-escala, para atender à maioria da população, que, invariavelmente tem um nível de exigência tão alto quanto um pires. A própria Democracia (a ideal, não essa palhaçada que ocorre hoje e que chamam de Democracia), não passa, na verdade do governo da maioria. E sempre que isso ocorre, oprime-se a mente individualizada. Promove-se a massificação do pensamento. Podemos usar palavras bonitas, mas o governo da maioria, é sempre um governo da covardia. É melhor que as vias de fato, mas não deixa de ser o bando maior e mais forte batendo no menor e mais fraco. Teoricamente, a diferença maior seria então o debate, o embate das idéias. Vamos ser honestos: quantas vezes isso realmente acontece? E quantas vezes as cartas já não estão marcadas desde muito antes?

Nós fazemos mais filhos do que conseguimos educar. Me parece inevitável que o "excesso" terá de ser cortado, ou pelo próprio homem, ou pela Natureza. Não sou nenhum bidu, mas acho que o destino da humanidade não parece muito animador. Sim, eu costumo ter visões pessimistas e apocalípticas das coisas, então releve.

Eu acho que, no geral, a Humanidade até que tem melhorado bastante. Historicamente falando, a gente não queima mais bruxas (até onde eu sei), não sai construindo pirâmides pra um maluco que diz que é filho do Sol. Mas eu tenho medo de que a gente se destrua antes de conseguir evoluir mais.

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