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21.3.05

 

Meu Filho Morreu

Meu filho morreu. "Nenhum pai deveria ver o filho morrer", ecoam as histórias há milhares de anos, mas meu filho morreu. Nenhuma história agora ajuda, não há solidariedade que me ofereçam que agora eu queira. Eu quero meu filho de volta.

Como um soldado, que parte para a guerra e deixa a mulher grávida, eu recebi, com alegria, com júbilo, com deleite, com o coração aberto e amoroso, a ciência da paternidade. Um filho! Brincalhão, e com meus olhos, um filho! O meu filho! Desviei das balas para ser seu pai, enfrentei os horrores da batalha para ser seu pai. Pedi perdão a cada inimigo caído, porque eu precisava derrubá-lo, para ser seu pai. E na preamar da guerra, quando começava a acreditar na esperança do retorno, meu filho morreu.

As alegrias que ele iria trazer, nunca mais serão. As alegrias que eu iria lhe dar, agora são navios na tormenta, soçobrando em meio às vagas. Os sonhos, os cantos, os netos - os vagalhões trazem a memória de memórias que nunca irei ter. Todas as histórias, os momentos juntos, os carinhos, as caretas, tudo se esvaiu, se foi, esvaneceu naquelas linhas, naquelas palavras soluçadas no papel. Seu filho morreu.

Choro um choro escondido, a lágrima seca de orgulho engolido. É irreal, diz a razão. É fantasia: o filho nunca o viu, não sabe a cor do sono dele. Empedrado em uma pose oca, faço conta de rochedo, de montanha impassível. Ah, ilusão!! Fere fundo a adaga de sua morte, que o canto de vitória da guerra tem pra mim uma batida fúnebre.

Meu filho morreu. Não mais papai. Não mais mamãe. Apenas aqueles olhinhos registrados no instantâneo, e o sorriso de quem ama.

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